terça-feira, 23 de setembro de 2008

Portugal é um país cada vez mais corrupto

Portugal é actualmente um país mais corrupto do que era há cerca de um ano. Fazendo fé no "ranking" hoje divulgado pela Transparency International o nosso país caiu quatro posições, ocupando em 2008 o 32.º lugar, com 6,1 pontos (em dez possíveis).
É o que dá branqueamento de árbitros e dirigentes de futebol, autarcas, pedófilos - sobretudo com a ajuda de medidas legislativas, dificultando a vida aos juízes e polícias - e o rol pode continuar com cursos universitários que saem na farinha Amparo ou são tirados por correspondência, etc., etc., etc.
Se os nossos políticos é que dão o exemplo, o que esperar dos outros cidadãos, especialmente se o sinal que se dá para o exterior é de total impunidade?
Assim vai este triste País...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Deco, associação de pendor socialista, finalmente reage, muitos anos, perdão, meses depois...

A DECO incita todos os consumidores a realizarem uma Jornada Nacional de Protesto, no próximo dia 27, Sábado, pedindo-lhes que não abasteçam os seus veículos durante todo o dia.

Foi preciso muitos sócios abandonarem a Deco para esta dizer alguma coisa acerca do aumento dos combustíveis. Um silêncio de muitos meses, incómodo para a Deco, para não esta não ser incómoda para o amigo José Sócrates.
Porque é que só agora, tantos meses depois do abuso e do descalabro, é que esta levanta a voz? De todas as associações só a Deco ainda não se tinha pronunciado publicamente sobre a questão dos preços dos combustíveis.

Eu diria: abasteçam os vossos veículos normalmente, mas não na Galp, BP, Cepsa ou Repsol. Eles não merecem e continuam a não merecer...

Objectivo prioritário da Milu: 100 por cento de aprovações no 9º ano

A ministra da Educação anunciou, esta segunda-feira, em Lousada, que um dos objectivos da sua equipa é alcançar, nos próximos anos, 100 por cento de aprovações no final do ensino básico.

«Não é uma utopia. Se outros países da Europa com os quais nos comparamos o fazem, Portugal também o pode fazer», disse aos jornalistas, à margem da cerimónia de inauguração do novo centro escolar de Nevogilde, em Lousada.

Maria de Lurdes Rodrigues explicou que Portugal começa a reunir todas as condições para alcançar a meta dos 100 por cento de aprovações no final do 9º ano de escolaridade.

«Os nossos alunos não são menos inteligentes, os nossos professores não são menos preparados, as nossas escolas eram piores, mas estão a ficar melhores. Portanto, com todas as condições, não é uma utopia, é mesmo uma meta para cumprir», explicou.

Comentário:
cuidem-se os professores do 9º ano, sobretudo os que estão mais expostos à avaliação.

Sugestão do tipo de perguntas para as provas do 9º ano de Português:

- Qual o Primeiro Ministro de Portugal:
a) José
b) Sócrates
c) Pinto de Sousa
d) Ingenheiro técnico da Univ. Independente.

- Qual destas palavras é sinónimo de burrice:
a) Ignorância
b) ignorância
c) IGNORÂNCIA
d) Perguntem à Ministra.

- Como é que se escreve a palavra "acção" segundo o novo acordo ortográfico?
a) acção;
b) ação;
c) acção, ação, à-são, àção, àssão - tanto faz, depende de como se pronuncia, pois a grafia não interessa.
d) perguntem ao Ministro da Cultura qual é o sinónimo de utopia...

Cuidado, sigam este tipo de modelos e não abusem das perguntas fáceis, pois podem ser acusados de facilitismo!

sábado, 13 de setembro de 2008

Desmotivação do pessoal docente

Testemunho de Adriana Campos, Licenciada em Psicologia, pela Universidade do Porto, na área de Consulta Psicológica de Jovens e Adultos, e mestre em Psicologia Escolar. Concluiu vários cursos de especialização na área da Psicologia, entre os quais um curso de pós-graduação em Psicopatologia do Desenvolvimento, na UCAE. Actualmente, é psicóloga na escola E B 2/3 de Leça da Palmeira, para além de dinamizar acções de formação em diversas áreas.


É com pesar que vou constatando a fuga de bons professores para a reforma, com muito ainda para dar...

Se, no final do ano lectivo anterior, tivesse sido feito um estudo com o objectivo de avaliar o nível de motivação da classe docente, os resultados seriam assustadores. Mesmo sem fazer nenhum estudo, pelo facto de trabalhar em contexto escolar, há já vários anos, tenho a noção clara de que, do lado da desmotivação, se encontraria a maior parte dos professores. O mais preocupante é que entre os desmotivados, não se encontram apenas os que menos têm dado à escola, mas também e sobretudo excelentes profissionais, que sempre procuraram desempenhar com brio a sua actividade profissional. É com pesar que vou constatando a fuga de bons professores para a reforma, com muito ainda para dar. Os bons profissionais com quem trabalho, que felizmente são muitos, queixam-se essencialmente da burocratização do ensino, que lhe retira tempo para estar com os alunos, do sistema de avaliação que está a ser implementado, da falta de valorização e apoio ao seu trabalho e do excesso de tarefas a desempenhar.

Sendo a motivação o motor principal da evolução das organizações, confesso que há motivos sérios para todos nós nos preocuparmos, uma vez que sem motivação é difícil obter bons resultados, seja em que actividade for. Professores desmotivados terão mais dificuldade em oferecer estímulos e incentivos apropriados para tornar a aprendizagem mais eficaz.

Tenho de admitir que a escola precisava de um abanão e que havia injustiças que era necessário resolver urgentemente, uma delas, à vista de todos, era o facto de todos os docentes receberem "na mesma moeda", independentemente do seu desempenho profissional. A diferenciação é importante e indispensável para a melhoria do desempenho. O grande problema é que o modelo de avaliação actualmente desenhado deixa muito a desejar e a margem para a injustiça é grande...

Admito ainda que grandes mudanças geram sempre grandes controvérsias, independentemente do alvo de mudança. A mudança e a crise andam sempre associadas, mas confesso que em todo este processo parecem faltar peças que ajudem os visados a reorganizarem-se. Anda tudo atarantado à espera de mais e mais medidas, que todos antecipam como penalizadoras... Não é possível que, vivendo os professores nesta ansiedade, os alunos não sejam atingidos, por muito bons profissionais que os primeiros sejam.

Confesso que ainda não tinha abordado este tema porque gostaria de trazer algo de novo para a discussão. No entanto, à falta de novidades, e porque um novo ano vai começar, pareceu-me importante sublinhar que HÁ EXCELENTES PROFISSIONAIS NAS ESCOLAS, cujo desempenho é indispensável valorizar. Mais ainda, é fundamental os responsáveis pela Educação estudarem a fundo os factores que influenciam a motivação, de forma a ficarem na posse da chave que poderá abrir, sem falsos resultados, o caminho para o sucesso da organização escolar.

Um comentário ao "post" intitulado "Irresponsabilidade pseudomoderna" que merece maior evidência devido à perspicácia das suas reflexões:

Os professores que o digam, sobretudo nos últimos anos, em que temos vindo a assistir ao fecho de escolas, fusão de outras. Poucos alunos = poucos professores. Logo, pessoas no desemprego a curto prazo. A longo prazo, uma redução drástica no montante das pensões a pagar: poucas ou nenhumas pensões para quem actualmente contribui para a Segurança Social. Este é o resultado de uma política que ataca o casamento e promove o aborto. Só resta uma solução: aprovar a eutanásia para o governo poder matar os idosos e livrar-se, assim, de uns incómodos pensionistas. A perspectiva futura desta sociedade para mim, que tenho 39 anos: reforma aos 70 anos, recebendo apenas 30% do ordenado (não há dinheiro para mais!), correndo o risco de ser eutanasiada por ordem de algum tribunal que me considere mentalmente incapaz de decidir sobre a minha vida. É esse o futuro que os Portugueses querem?
Sou esposa de um professor do Ensino Básico, mas vão-me desculpem o anonimato, e estou certa de que os professores compreenderão: nesta sociedade em que lixam a vida de quem faz gracejos sobre o primeiro-ministro ainda posso acabar eutanasiada antes de tempo...

Os números da ministra, os da OCDE e o dia-a-dia da escola – Editorial de José Manuel Fernandes

Para assinalar a abertura do ano lectivo, o PÚBLICO pediu a 85 professores que dissessem o que iriam fazer para melhorar a escola. Não escolhemos uma amostra científica nem procurámos que fosse representativa, apenas tivemos o cuidado de que fosse aleatória e de não condicionar as respostas. Ora lendo o trabalho que hoje editamos verifica-se que uma grande parte dos professores, talvez a maioria, afirma ou dá a entender que ensinaria melhor se o ministério atrapalhasse menos. E são numerosíssimas as respostas em que se percebe até que ponto chegou a desmotivação de muitos docentes.
No entanto, milagrosamente, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues e o primeiro- ministro José Sócrates vieram dizer-nos que tudo corre às mil maravilhas na área da educação. Há mais investimento (?) e conseguiram-se melhores resultados a todos os níveis, sobretudo no sucesso educativo dos alunos. Distribuíram aos jornalistas alguns quadros em abono da sua tese, provando que a percentagem de chumbos diminuiu (mas já não entregaram os números absolutos, para se perceber melhor o universo a que se referiam as percentagens…), e ainda disseram, humildemente, que o êxito se devia aos professores. O que significa que estamos perante um paradoxo: professores que viveram um ano conturbado e de contestação conseguiram o milagre de estarem fortemente motivados para alcançar os objectivos com mais sucesso. Não bate certo. Até porque o inquérito também não encontrou, antes pelo contrário, esses professores altamente motivados.
Existindo um paradoxo, tem de existir uma explicação. A primeira seria estarmos perante uma geração de alunos mais motivada e mais interessada na aprendizagem e no sucesso. Seria óptimo se fosse verdadeira, mas é falsa: a maioria dos alunos são os mesmos do ano passado, só que um ano mais velhos. Por esse lado não houve milagres.
A segunda explicação é a que foi ontem dada pela generalidade dos professores que se pronunciaram: há instruções para chumbar menos alunos, houve exames mais fáceis e aumentou-se tanto a burocracia que é quase preciso ser um herói para, como se diz em eduquês, “reter” uma criança ou um adolescente. É muito mais fácil deixá-lo prosseguir, mesmo que mal preparado. Infelizmente é esta a resposta verdadeira, a resposta que foi sendo antecipada ao longo do ano lectivo, quando aqui se escreveu que o Ministério da Educação estava mais preocupado com boas estatísticas do que com um bom sistema de ensino e alunos realmente qualificados.
Vale a pena citar, a este propósito, José Pacheco, director do Centro de Investigação em Educação (CIED) da Universidade do Minho, que ontem explicou à agência Lusa que “as elevadas taxas de retenção que se registavam há uns anos eram incomportáveis para qualquer Governo, por causa da comparação dos resultados a nível internacional. Agora reter um aluno é um processo difícil, o que faz com que, estatisticamente, haja uma diminuição significativa dos chumbos”.
Ou então Jorge Ramos, especialista em História da Educação, que concretizou: “Os níveis de exigência estabelecem-se de acordo com os objectivos esperados por parte do Estado e o objectivo actual é que toda a gente termine o seu percurso escolar. As competências e os objectivos esperados para cada ano de escolaridade passam a ser definidos em função de toda a população de uma determinada faixa etária.”
Acontece porém que, mesmo utilizando as estatísticas portuguesas, em particular as do Ministério da Educação, a OCDE sempre vai produzindo estudos comparativos que, mesmo condicionados pelos dados enviados de Portugal e não podendo avaliar fenómenos como o criticado “facilitismo”, permitem comparações interessantes.
Por exemplo: ficámos a saber que Portugal é um dos países da União Europeia onde se dedica menos tempo ao ensino da língua pátria e da Matemática, precisamente as duas cadeiras centrais, básicas, de qualquer currículo escolar; ou que os docentes portugueses de todos os níveis de ensino são os que dão mais horas de aulas e os que mais tempo têm de permanecer nas escolas, razão por que é provável que sejam dos que têm menos tempo para preparar as aulas e dos que mais horas gastam a preencher papéis e a desempenhar funções burocráticas. Fazendo o cruzamento das estatísticas “embrulhadas” para eleitor ver com as da OCDE e acrescentando a leitura que os especialistas fazem do “milagre” do sucesso, só se pode chegar a uma conclusão: depois da fase da massificação do ensino que, naturalmente, se traduziu numa perda de qualidade por passarem a aceder ao sistema alunos com uma base familiar mais frágil, aquilo que devia ser a fase da qualificação e da exigência está ser substituído por uma mistificação que procura transformar o insucesso em sucesso, fingindo que, assim, se ganhou qualidade.
Num país onde os níveis formais de qualificação da população continuam ao nível dos da Turquia (só 28 por cento da população entre os 25 e os 64 anos completou o ensino secundário), este teatro político não é uma comédia, é uma tragédia que pagaremos muito caro no futuro
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José Manuel Fernandes

Nota do editor: o negrito e o amarelo são nossos.

Irresponsabilidade pseudomoderna

In Diário de Notícias, 2008.09.08
João César das Neves

O sr. primeiro-ministro introduziu recentemente no debate político nacional a questão de saber se "o casamento tem por objectivo a procriação". Num discurso classificou-a como "uma frase pré-moderna e até pré-concílio do Vaticano II" (DN 12 de Julho). Por causa disso temos agora muitos jornalistas a perguntar, e muitas personalidades a pronunciarem-se, sobre este magno problema.
Relativamente à substância do tema não há muito a dizer.
No caso improvável de existir alguém de boa fé com dúvidas genuínas, pode afirmar-se que neste planeta nunca viveu ninguém que achasse que o casamento tinha como único objectivo a procriação. Trata-se de uma ideia tão abstrusa que não é pré-moderna. É aberrante. Tão aberrante como achar que o casamento não tem nada a ver com procriação.
O casamento tem por objectivo a procriação, como tem por objectivo o amor conjugal, o prazer sexual, a administração doméstica, a continuidade genealógica, a satisfação económica e muitas outras coisas. É importante não absolutizar qualquer desses aspectos, como é importante não omitir nenhum. Uma comparação ajuda a compreender.
Será que a refeição tem por objectivo o alimento? Quem reduza o almoço à simples necessidade nutritiva comete grande erro, ao esquecer o convívio social, a delícia culinária, o ritual de amizade.
No entanto, nas orgias da Antiguidade havia a prática de os convivas vomitarem o que comiam para poderem voltar a encher a barriga. Assim, excluía-se da refeição a nutrição, reduzindo-a a simples meio de prazer e convívio.
Hoje reprovamos esse comportamento, mas achamos razoável banir a procriação do casamento. O sr. primeiro-ministro não reparou que o mal actual está na exclusão da procriação, não na sua exclusividade.
O problema no entanto não é conceptual, mas político. A procriação hoje não constitui uma simples questão moral, mas é um elemento crucial da estratégia nacional. Por isso aquelas afirmações, mesmo envolvidas na refrega partidária, são determinantes.

Foi no consulado de José Sócrates que, pela primeira vez no Portugal moderno, o número de óbitos ultrapassou o de nascimentos, em 2007. Assim, excluindo movimentos migratórios, a população nacional está em acelerada decadência. Este facto estrutural é, sem dúvida, o mais influente e crucial da situação actual. As suas consequências culturais, sociais, psicológicas, económicas, mesmo históricas e nacionais, serão enormes. Até naqueles temas mais mesquinhos, financeiros ou tecnológicos, que costumam preocupar o Governo, os impactos se sentirão.
Todos conhecem bem o drama do financiamento da Segurança Social, que resulta directamente daqui. Mas há muito mais. Deve compreender-se que quando a população está em queda muito do que sabemos da sociedade muda de natureza e inverte a orientação. O que significa "crescimento económico" se a população cai? Valerá a pena fazer investimentos produtivos num mercado em contracção? Para quê novos aeroportos ou ferrovias com menos gente?
Com a população a descer, o preço dos imóveis cairá por ausência de procura e o sector da construção terá de se reconverter para a demolição de casas crescentemente devolutas. Até a Bolsa terá dificuldade em subir num país em decadência. Os custos fixos ganham importância e o Orçamento do Estado aumenta o peso. Na agricultura abundam os baldios, faltam os braços para trabalhar, como as bocas para comer. Tudo tem de ser reconvertido para a desertificação: menos polícias e militares, com menos cidadãos para proteger; menos contribuintes, mas também menos fiscais de finanças.
Este cenário não é inevitável. Mas daqui a umas décadas, se os nossos descendentes sentirem na pele os terríveis efeitos da degradação demográfica e queda da fertilidade, será difícil compreender a ligeireza e irresponsabilidade de um primeiro-ministro que hoje introduz assim o tema da procriação no debate político.
Será difícil aceitar que não o faz por maldade, mas por simples inconsciência.
Embora sejam a inconsciência e a ligeireza que criam o problema.

Da relevância política da portaria da bolacha Maria!

In PÚBLICO, 09.09.2008, Helena Matos

Convém lembrar que não existe nada gratuito. A escolaridade em si mesma custa muitíssimo dinheiro aos portugueses

Se alguma vez tivéssemos de escolher um símbolo para a incontinência legislativa com que os sucessivos governos têm procurado melhorar a vida daqueles que definem como mais desfavorecidos creio que nada suplantaria a portaria da Bolacha Maria.
Dada à luz a 30 de Setembro de 1974, a dita portaria procurava aplicar os conceitos da luta de classe ao reino das bolachas e biscoitos, que é como quem diz criar um regime de preços máximos de venda para a bolacha Maria dado que esta, explicava o legislador, ao contrário de outros tipos de biscoitos, era consumida "em especial pelas classes de menores rendimentos". E assim, a 30 de Setembro de 1974, no preciso dia em que Spínola resignava e Costa Gomes era nomeado Presidente da República, um membro do Governo legislava impassível sobre os preços máximos da bolacha Maria e, em abono da verdade, diga-se também que da bolacha de água-e-sal e das tostas. Como o Governo caiu nesse mesmo dia, o legislador já não teve tempo para regulamentar sobre outros assuntos cruciais para a vida dos portugueses, tais como o universo burguês do sortido húngaro e quiçá estabelecer quotas de acesso ao bolo de arroz. Mas pode essa preclara alma dar-se por satisfeita: o argumento da defesa dos mais desfavorecidos, sobretudo se engalanado dumas vestes de progresso, justifica toda a legislação em Portugal, incida ela sobre as bandeiradas dos táxis, a data do início dos saldos ou a distância mínima a que, na pesca amadora, os pescadores devem deixar as respectivas canas umas das outras.
Tal como aconteceu no dia 30 de Setembro de 1974, muita desta legislação que se apresenta como uma correcção das injustiças - e admitindo que trincar bolacha Maria faz parte do rol dos direitos que cada um traz à nascença - nasce em momentos de grande crise, logo torna-se anedótico, quando não grotesco, cruzar essa legislação com os acontecimentos que a História regista desses mesmos dias: a 30 de Setembro de 1974, Portugal viveu uma das situações mais graves da sua História recente, mas tabelar a bolacha Maria surgiu como essencial a um membro do Governo de então. Infelizmente, esta esquizofrenia está longe de se restringir às dinâmicas revolucionárias - como aconteceu em 1974, em Portugal - sendo mesmo estrutural na elaboração das estratégias políticas dos partidos que fazem as democracias. O exemplo mais próximo desta linha de actuação é o actual Governo espanhol que, perante a ameaça duma grave crise económica, se entretém a anunciar como medidas fundamentais para os próximos meses a alteração à legislação sobre o aborto e o suicídio assistido, vulgo eutanásia. Um guião de humor negro não faria melhor, mas até agora esta agenda de fatalismo progressista tem conseguido preencher o vazio ideológico e proporcionar bons resultados eleitorais. Em Portugal também lá chegaremos, sendo que aos assuntos do costume ainda temos para adicionar a temática da regionalização, assunto mediaticamente precioso num país que, na prática, não consegue sequer actualizar o mapa das suas freguesias.
Por agora, e embora já em contagem decrescente para entrarmos nessas polémicas, o que ocupa as medidas sucessoras da portaria da bolacha Maria são os apoios escolares. Para este ano lectivo anunciam-se mais refeições gratuitas, mais livros gratuitos e um maior número de alunos abrangidos pelo princípio da gratuitidade. Em primeiro lugar conviria lembrar que não existe nada gratuito. E os primeiros a quem tal deve ser recordado são precisamente o Governo que se compraz, qual aristocrata caritativo, a anunciar tanta gratuitidade como àquelas organizações como o Fórum Não Governamental para Inclusão Social que nunca se sabe quem representam e muito menos o que fazem, mas que, imbuídas duma espécie de superioridade moral, exigem ciclicamente uma escolaridade obrigatória "realmente gratuita". Todos aqueles livros e demais material, além da própria escolaridade em si mesma, custam muitíssimo dinheiro aos portugueses.
Também às famílias o valor deste apoio deve ser recordado. Como aliás devia ser dado aos utentes o valor real de cada consulta num centro de saúde, dos tratamentos nos hospitais públicos, das refeições nas cantinas escolares, etc. Porque não só o gratuito não existe como muito provavelmente, ao transformá-lo numa espécie de prémio de presença para aqueles que agora se chamam carenciados, se está a contribuir para que estes não valorizem a escola. Seria, por exemplo, interessante avaliar, a meio do ano escolar, o estado de conservação e utilização de muitos destes livros e material supostamente gratuitos. Como também seria importantíssimo cruzar os dados destes apoios com os dos resultados escolares. Talvez então se percebesse que, na escolaridade obrigatória, a maior parte dos alunos não tem maus resultados por não ter material escolar ou os manuais. (No caso destes últimos, a sua ausência em algumas disciplinas, como o Português, seria até uma bênção!).
O melhor apoio escolar é uma escola que funcione bem, seja exigente com todos os seus alunos e não trate aqueles que rotula como mais pobres - e que nem sempre o são na realidade - como crianças de quem há menos a esperar, tanto no comportamento como na avaliação. E naturalmente uma escola que seja respeitada para o que é essencial que os seus alunos saibam que custa muito dinheiro. Logo é um privilégio poder frequentá-la sem pagar.
É fácil, à distância de três décadas e meia, concluir que, em Setembro de 1974, tabelar a bolacha Maria era absolutamente irrelevante perante os reais problemas que os portugueses enfrentavam então. Provavelmente o mesmo se vai dizer dentro de alguns anos de toda a parafernália que, ano a ano, se anuncia para combater o insucesso escolar, particularmente o insucesso dos filhos dos mais pobres. Mas até lá temos ainda muita bolacha Maria para trincar e muita legislação de apoio às "classes de menores rendimentos" para digerir.
Helena Matos, Jornalista

O VALOR DA VÍRGULA

Senhores professores de Português, eis um texto interessante da Associação Brasileira de Imprensa sobre o valor da vírgula.


A vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

.. E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Detalhes adicionais:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER. Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.

A OCDE DESMENTE O MINISTÉRIO

O que o Ministério sabe mas esconde cobardemente, de forma a virar os portugueses menos esclarecidos contra os que trabalham dia a dia para dar um futuro melhor aos filhos dos outros.

'Os PROFESSORES em Portugal não são assim tão maus...'

Consultem a última versão (2006) do Education at a Glance, publicado pela OCDE, em http://www.oecd.org/dataoecd/44/35/37376068.pdf.

Se forem à página 58, verão desmontada a convicção generalizada de que os professores portugueses passam pouco tempo na escola e que no estrangeiro não é assim.
É apresentado, no estudo, o tempo de permanência na escola, onde os professores portugueses estão em 14º lugar (em 28 países), com tempos de permanência superiores aos japoneses, húngaros, coreanos, espanhóis, gregos, italianos, finlandeses, austríacos, franceses, dinamarqueses, luxamburgueses, checos, islandeses e noruegueses!

No mesmo documento de 2006 poderão verificar, na página 56, que os professores portugueses estão em 21º lugar (em 31 países) quanto a salários!
Na página 32 poderão verificar que, quanto a investimento na educação em relação ao PIB, estamos num modesto 19º lugar (em 31 países) e que estamos em 23º lugar (em 31 países) quanto ao investimento por aluno.

E isto, o M.E. não manda publicar...
Não há problema. Já estamos habituados a fazer todos os serviços.
Nós divulgamos aqui e passamos ao maior número de pessoas possível, para que se divulgue e publique a verdade.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Os perigos do facilitismo na Educação

O ME está todo empolgado por a taxa de chumbos no ensino básico e secundário ter atingido, no ano lectivo 2007/08, o valor mais baixo da última década. Sabemos a fantochada que foram os exames nos anos terminais, qual deles o mais fácil... Nos outros anos, por força das normas impostas pelo ME, as taxas de retenção diminuem, as estatísticas garantem o sucesso escolar, mas os alunos sabem menos. Há várias formas de manipular e distorcer a realidade. As estatísticas não dizem tudo. Os problemas vão sendo adiados.
Vejam o que será o futuro da educação em Portugal, se isto assim continuar, em:
http://www.youtube.com/watch?v=cSA239vNRGQ&feature=related

Vamos lá a contas; não se deixem enganar pela GALP

Quando o preço do brent atingiu os 105 dólares em finais de Março passado (no início de Março é que estava aos 103 dólares de hoje, mas não tenho preços de referência para os combustíveis nessa altura), o gasóleo custava 1,25 euros, ou seja 6 cêntimos mais barato do que os 1,309 que a Galp agora nos apresenta. Baixou 2 cêntimos, ainda assim fica a ganhar e lança areia para os olhos dos Portugueses. Se houvesse boa fé, tinha baixado 8 cêntimos. E não é o câmbio do dólar que nos convence, pois, se o dólar barato ou o euro caro fossem argumentos, o preço do combustível não teria subido ao longo deste ano em que o dólar se foi afundando relativamente ao euro. Se, na altura, o elevado valor do euro não foi argumento para não se aumentar o combustível, também a desvalorização do mesmo não devia ser agora argumento para não se baixar mais o preço dos combustíveis.
É por isso que deixei de abastecer na Galp, Repsol, Cepsa e BP...
Há muita informação na internet que confirma o que eu digo:
http://www.energy.eu/
http://www.iade.pt/unidcom/pdf/analise_mai082.pdf
http://tonto.eia.doe.gov/dnav/pet/pet_pri_spt_s1_m.htm
http://tonto.eia.doe.gov/dnav/pet/xls/pet_pri_spt_s1_m.xls

e sobretudo
http://tonto.eia.doe.gov/dnav/pet/hist/rbrtem.htm
Vejam bem a diferença de preços da energia (electricidade e gás incluídos) entre os países da UE em http://www.energy.eu/

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sócrates dixit

Pois é, caríssimos, fiquem sabendo que "o tempo da facilidade acabou" para os professores. Sócrates dixit . So gostava de saber a que "facilidade" é que Sócrates se refere... ...à facilidade de se ser dispensado do emprego? à facilidade em o Estado obter emprego barato e precário? Enfim... No comments..

Grande poder de autocrítica

O primeiro-ministro, José Sócrates, assegurou que a Educação é a área "prioritária das políticas de investimento público". O chefe de Governo falava após uma visita a três escolas emblemáticas de Lisboa que vão receber obras de requalificação, sendo que até 2015, o Executivo espera que fiquem concluídas os trabalhos de modernização nas 332 escolas do país.
"Fico espantado com os anos que decorreram sem terem sido feitas quaisquer intervenções. A sensação é que vamos tarde", afirmou José Sócrates...
In Público on line (2-9-08)

Na verdade, Sócrates dá um tiro no pé (esquerdo). Ao censurar a degradação das escolas ao longo dos últimos anos, está a criticar o governo de que fez parte, o tal para o qual a Educação era uma Paixão. Depois de o Valter Lemos ter criticado o ex-ministro da Educação Santos Silva, vem agora Sócrates criticar o Engº Guterres. É caso para dizer: tal Sócrates, tal Lemos (ou será tal Lemos, tal Sócrates?...)