terça-feira, 25 de março de 2008

Violência nas escolas atinge também funcionários

Funcionárias agredidas por alunos na escola EB 2-3 de Tarouca, distrito de Viseu

In "O Público" de 25.03.2008,

Uma auxiliar educativa teve que se colocar à frente de colega grávida e recebeu em vez dela os golpes do aluno


As agressões a funcionárias da Escola EB 2-3 e Secundária de Tarouca, no distrito de Viseu, arrastam-se há dois anos. Os alegados autores de empurrões, murros e pontapés a várias auxiliares educativas são dois irmãos de 11 e 15 anos que frequentam o 5.º e o 7.º anos. Este ano lectivo arrastaram mais seis elementos para o grupo que se autodenomina gangue.
A última agressão foi a 14 deste mês, quando uma funcionária repreendeu um dos alunos por estar a bater num colega. Ele largou o rapaz, mas desatou aos pontapés no peito, na barriga e nas pernas da auxiliar de acção educativa, que teve de ser transportada pelo INEM para o Hospital de Lamego.
A GNR foi chamada pelo conselho executivo, mas o comandante de destacamento de Moimenta da Beira, Adriano Resende, assegura que quando os guardas chegaram ao local "já estava tudo sossegado". A GNR aguarda agora por queixa da vítima. Esta, contactada pelo PÚBLICO, diz que, tratando-se de menores, não adianta apresentar queixa. "Não lhes acontece nada", desabafa.
Este ano os mesmos alunos já a haviam agredido com pontapés nas pernas. No ano passado também foi surpreendida com uma "cotovelada nas costas", que a deixou temporariamente imobilizada.
A mesma auxiliar educativa foi testemunha, no ano passado, de uma agressão a outra funcionária que recebeu tratamento no Hospital de Vila Real e que apresentou queixa na GNR, para pouco depois a retirar:estava em regime de contrato e terá receado ser dispensada por falta de competência para lidar com os alunos mais rebeldes.
Há ainda o caso de uma funcionária grávida que só não foi agredida por um dos alunos porque uma colega se colocou à sua frente, apanhando o golpe em seu lugar.
A escola tem "tentado solucionar o problema dentro das suas capacidades", justifica a presidente do conselho executivo do Agrupamento de Escolas de Tarouca, Manuela Machado, que admite que a situação "tem uma certa gravidade na medida em que cria alguma instabilidade", mas acredita que pode ser resolvida ao nível interno, "desde que a comunidade escolar se envolva", o que, garante, já está a acontecer.
Os casos de violência nunca foram comunicados à Direcção Regional da Educação do Norte. Na escola fala-se em "pacto de silêncio" informal de toda a comunidade escolar para evitar que a escola seja vista como sendo de risco e "incapaz" de controlar alunos mais problemáticos. Manuela Machado contesta a versão e diz que um dos alunos está a ser acompanhado pela Comissão de Protecção de Menores e Jovens em Risco.

Sandra Ferreira

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